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Judy e as consequências do gaslighting em Disque amiga para matar

Atualizado: 7 de ago. de 2020

Por Larissa César - CRP 03/9058


Você sabe o que é gaslighting? Já ouviu falar? Frases como: “É coisa da sua cabeça”, “Ela não sabe o que diz” e “Você é louca” são exemplos desse tipo de violência psicológica pela qual a personagem Judy passa no seu relacionamento com Steve.


Eles vivem um relacionamento abusivo onde a prática do gaslighting é utilizada por Steve de forma sutil e manipuladora, com o objetivo de omitir e distorcer as informações para o seu favorecimento, gerando um desgaste na autoestima e na autoconfiança de Judy, fazendo com que ela duvide de si mesma, de seus sentimentos, da sua capacidade e às vezes até da sua sanidade mental. Steve define Judy como louca, problemática e instável, na tentativa de desacreditá-la, se colocando como a vítima da situação. Outra característica marcante do quanto abusivo é o relacionamento entre os dois é a maneira como ele se aproveitava dos sentimentos dela para controlar suas ações e atitudes e, assim conseguir manter o ciclo da dependência emocional.


Com o passar dos episódios é possível perceber que Judy vai identificando a forma abusiva como Steve a trata. Ao se aproximar de Jen com quem estabelece uma amizade improvável, Judy encontra apoio e suporte emocional e, isso a impulsiona a terminar seu relacionamento e se abrir para conhecer novas pessoas.


Tudo muda quando Steve morre em uma briga com Jen, sem o envolvimento e participação de Judy, a partir desse momento Judy passa a viver uma dualidade, mesmo sabendo que Steve era abusivo, ela passa a sentir sua falta e ter saudade do relacionamento deles, chegando a se sentir culpada e responsável por sua morte. Por esse sentimento, Judy criou uma imagem que não era coerente com a realidade, ele saiu do lugar de abusador para o de quem cuidava, apoiava, valorizava e amava, transformando-o em alguém que só existia na sua idealização e dentro das suas expectativas.


O gaslighting praticado por ele foi tão forte e intenso que os efeitos se prolongaram até mesmo depois da sua morte, fazendo com que Judy não se sentisse merecedora de amor, carinho e afeto, demonstrando o quanto a relação foi tóxica para ela. Essa atitude de Judy é comum para quem vivencia o abuso gaslighting pois, é uma forma de violência muito perversa, ela é contínua e se consegue a partir do exercício de um assédio constante, mas sutil, indireto e repetitivo que vai gerando dúvidas e confusão na vítima que o sofre, a ponto de chegar a se sentir culpada pelas condutas do abusador e duvidar de tudo que acontece à sua volta.


Aos poucos Judy vai construindo uma forma de se distanciar desse sentimento, encontrando na relação com Jen uma forma de superação e elaboração do que viveu com Steve, entre os problemas que elas enfrentam nasce uma cumplicidade e um sentimento de pertencimento e acolhimento, proporcionando assim, que elas encontrem seu lugar no mundo.


Para Judy, encontrar seu lugar no mundo significa ressignificar a sua história de abandono e negligência vivida na relação com sua mãe, e foi com esse entendimento que ela se permitiu recomeçar. Nessa trajetória ela conhece Michele na casa de repouso onde dá aulas de pintura. No primeiro momento elas se tornam amigas, começam a dialogar sobre os problemas, dilemas e dificuldades que cada uma enfrenta em sua vida, as afinidades começam a surgir e de uma forma natural e espontânea, elas acabam se envolvendo amorosamente. Michelle traz leveza para a vida de Judy, faz com que ela desperte para a possibilidade de vivenciar uma relação saudável, contribuindo assim na recuperação do seu amor próprio e da sua segurança em si mesma.


Ao longo da história é possível perceber que Judy entra em uma jornada pessoal importante, estabelecendo uma conexão com ela mesma e com o que lhe faz bem, entendendo melhor as suas vulnerabilidades, acolhendo e transformando a sua dor em aprendizado e se fortalecendo para (re) escrever a sua história.



Larissa César é psicóloga, CRP 03/9058, com formação em Terapia Familiar Sistêmica. Atende em consultório particular em Salvador e Lauro de Freitas/BA e na área acadêmica seus interesses estão voltados para relacionamentos amorosos, conjugais e familiares, autoestima, relações de gênero e luto.


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