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Aquele da análise psicológica da Monica

por Giovanna de Boni Fraga, CRP 07/29470


A sitcom americana queridinha de quem viveu os anos noventa, Friends retrata a vida de seis amigos de personalidades distintas que enfrentam as comédias e os dramas da vida adulta em Nova York enquanto passam o tempo livre na cafeteria Central Perk. As situações da vida adulta faz com que a graça da série aconteça, tanto na rotina do dia a dia quanto nos momentos mais inusitados. E tudo isso unido a personalidade inesquecível dos protagonistas, que fizeram com que a série ganhasse ainda mais nossos corações. Por isso, hoje trago uma análise psicológica e comportamental de uma das minhas personagens favoritas: Monica Geller. 


Irmã mais nova de Ross, vizinha de Joey, antiga colega de quarto de Phoebe, esposa de Chandler e melhor amiga de Rachel. Essa é Monica, a cola que une o grupo. É na casa dela que os melhores amigos sempre estão, e é para ela que eles recorrem quando precisam de uma ajuda ou apoio. Monica é quem cuida de tudo e de todos, com o seu jeito mandão e amoroso de ser. Não há quem não goste dela, pois seus piores defeitos se tornam pequenos perto das suas melhores qualidades. Isso faz da Monica uma personagem única, que consegue cativar o público sem se esforçar. Todo mundo torce por ela, para que seja feliz e se dê bem na vida. Só que mesmo a personagem mais querida e amada, tem suas questões para serem analisadas. 


Uma delas é quanto à sua personalidade marcante, que vai desde o perfeccionismo exagerado até a competitividade extrema. Sendo isso motivo de piada  entre seus amigos. Além do que, muitos fãs acreditam que ela apresenta TOC (transtorno obsessivo compulsivo). Se pararmos para analisar, podemos dizer que ela apresenta sim características que o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) poderia classificar como sintomas desse transtorno. Basicamente, o TOC é caracterizado por dois sintomas: a obsessão e a compulsão. Enquanto a obsessão está ligada aos pensamentos, a compulsão está relacionada aos comportamentos. Ou seja, surge um pensamento intrusivo do qual a pessoa precisa se expressar com algum comportamento como forma de aliviar a ansiedade ou a tensão em questão.


E podemos perceber em diversos momentos ao longo da série em que a Monica demonstra esses comportamentos de forma cômica, já que se trata de uma série de comédia. Em um episódio, por exemplo, ela limpa a casa com um aspirador e utiliza um aspirador menor para limpá-lo, por fim ela conclui que deveria haver um outro para limpar o pequeno. Em outro episódio, Monica lava toda a louça que Rachel havia lavado antes, porque segundo a mesma, não acredita ter sido bem limpa. Sem falar de quando ela e Rachel trocam de apartamento com Joey e Chandler por conta de uma aposta, e ela tem de fazer uma faxina geral para que possam se sentir mais à vontade no local. E claro, quando Monica está no seu local de trabalho, ela mostra o quanto é uma chefe dedicada e responsável, que sua cozinha está sempre limpa e impecável. 


Claro que apenas esses aspectos de limpeza e arrumação não configuram o transtorno obsessivo compulsivo, porém por ser um comportamento recorrente é algo que podemos considerar. Além do mais, para afirmarmos com certeza precisamos saber se existe sofrimento por parte da pessoa. E sim, em diversas ocasiões vemos Monica desconfortável com esses comportamentos gerados pelos pensamentos intrusivos. Isso se mostra em um episódio em que ela é desafiada a deixar os sapatos na sala, ao invés de guardar no lugar de sempre. Para provar que não se importa, ela deixa onde está. Porém não consegue dormir pensando nisso. Então, ela cria diálogos na sua própria mente para tentar se acalmar e pensa em guardar os sapatos, e de manhã cedo os bagunça antes que alguém perceba. Isso é muito comum em quem tem TOC, de tentar negociar com a própria mente através de uma ação que ajude a prevenir ou reduzir a ansiedade e o sofrimento em questão. 


Outra questão importante para analisarmos é que segundo o DSM-5, os fatores ambientais são uma das causas do TOC. Assim, não podemos deixar de considerar o contexto familiar da Monica. Ela cresceu sob extrema comparação com seu irmão, e com inúmeras críticas de sua mãe. O que nos leva a pensar que isso pode ter contribuído para que ela desenvolvesse essa necessidade de perfeição e competitividade, tanto para ser aceita quanto para ser perfeita. Também podemos ver que sempre que ela joga um jogo, ainda que bobo, nunca aceita perder. Um exemplo disso é num episódio de Ação de Graças, em que eles decidem jogar futebol americano. Ou também no episódio em que Joey e Chandler passam algumas horas jogando bola um para o outro, e ela decide participar para mostrar sua força e garra. 


Mas claro que nada disso impede Monica de ser uma amiga fiel, amorosa, uma excelente cozinheira e uma pessoa cativante. Ela passou por diversos desafios e obstáculos ao longo da sua juventude, mas superou tudo com muita coragem e determinação. Isso sempre fez dela uma pessoa persistente e independente, que apesar dessas questões psicológicas e comportamentais, que mesmo nos seus momentos mais vulneráveis e sensíveis, ela sempre seguiu em frente de cabeça erguida. Assim é Monica, uma mulher que a única coisa capaz de fazer com que pare é ela mesma, com seus comportamentos compulsivos e pensamentos obsessivos. 


Giovanna de Boni Fraga é escritora e psicóloga, formada pela PUCRS. Idealizadora do Projeto Porta Adentro: relatos de tempo em casa; Coautora do aplicativo Amar é; Editora da equipe Psicologia em séries.

Através do autoconhecimento e da escrita terapêutica ajuda pessoas a se conectarem com a sua própria criatividade para a resolução de problemas.

Atende crianças, adolescentes e adultos de forma presencial na cidade de Osório - RS, e online para as demais cidades do Brasil.

Seus interesses estão voltados no desenvolvimento do autoconhecimento através da escrita terapêutica, na criatividade como resolução de problemas, e na saúde e bem-estar através da atenção plena.


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