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De repente irmãs

Atualizado: 30 de set. de 2018

por Everllin Taviara Diana, CRP 01/19281


Você já considerou a ideia de se priorizar na sua própria vida? Você já parou para observar a maneira como cuida de si e se respeita?


Neste ano, a Netflix lançou a série “De repente, irmãs”, que de uma forma leve e cômica aborda a história de três mulheres que tentam estabelecer um relacionamento de irmãs entre si quando descobrem ter o mesmo pai biológico em comum: um renomado cientista que ao logo de trinta anos usou o próprio esperma para engravidar mulheres na sua clínica de inseminação.


Após o choque inicial da revelação, Julia decide promover o encontro de todos os possíveis irmãos biológicos, onde distribui kits de exame de DNA para confirmação do parentesco. Ela conhece então a nova irmã Roxy, uma estrela de programa infantil viciada em pílulas para dor, e descobre que Edie, uma antiga amizade problemática, é sua irmã biológica. Criada como filha única do cientista e diante da perda da mãe ainda na infância, ela vê nessas irmãs a possibilidade de ter uma família e acaba se tornando a cola que une e mantém junto as outras irmãs no relacionamento fraterno.


Apesar de ter clareza sobre a maioria dos seus desejos e objetivos, Julia se mostra alguém com uma tremenda dificuldade de se valorizar, sobretudo de se priorizar e vive colocando as necessidades dos outros em primeiro lugar, ainda que isso lhe custe os próprios desejos, necessidades, bem-estar e até mesmo a prejudique em algumas situações.


À medida que as coisas vão acontecendo, vemos Julia em situações complicadas e sufocantes nas quais ela não consegue se expressar ou se posicionar, de forma que sempre acaba abrindo mão de si mesma em prol dos outros.


Já no início, aceita hospedar indefinidamente em sua casa Roxy, que fica sem casa ao brigar com os pais, e também Oscar, um dos irmãos biológicos que vem de muito longe para conhecê-las. Já sem espaço para acomodações, ainda aceita hospedar Casey, uma estranha invasiva que se nega a fazer o teste de DNA para comprovar o parentesco. Julia acaba abrindo mão da sua casa para hospedar a “família”, chegando a perder a própria cama em uma abusada investida de Casey. Logo em seguida, ela perde o trabalho de professora por não conseguir adotar uma postura firme com um dos irmãos biológicos com quem teve um caso antes da revelação bombástica.


Cada vez mais ela vai se sobrecarregando de responsabilidades de outras pessoas a ponto de uma das irmãs, Roxy, lhe pedir para tirar um dia de folga para si. Ela até tenta se manter como prioridade durante esse dia, buscando homens para encontros sexuais que não fossem um de seus irmãos biológicos; porém, acaba perdendo o seu dia em uma visita à casa de um homem cujo DNA dera negativo, por saber pela esposa dele o quanto a possibilidade do parentesco tinha melhorado a sua perspectiva de vida e condição de autista.


De um jeito leve e cômico, Julia representa o quanto nós, às vezes, ligamos o botão do piloto automático, vamos cumprindo as tarefas diárias e responsabilidades à nossa volta e nos esquecemos de nós mesmos. O que faz com que todo o resto seja mais importante do que você mesmo, do que seu bem-estar físico e emocional?


Doar-se ao outro mais do que recebe significa não se posicionar e anular-se em suas relações com amigos, namorados, cônjuges, familiares e até com pessoas que ocupam um nível de nenhuma ou pouca importância para nós, como é o caso de Julia.


Não é egoísmo se colocar em primeiro lugar. Egoísmo é pensar apenas em si mesmo, querer que alguém viva ao seu lado só para você. A capacidade de se priorizar consiste em estabelecer o equilíbrio entre o “dar” e o “receber”, é não ultrapassar os próprios limites, necessidades e bem-estar para agradar outra pessoa.


Quando você não se avalia de forma positiva, acaba em um mundo de autodepreciação, necessitando da aceitação e da valorização dos outros para combater o próprio sentimento de incapacidade e baixa autoestima.


Existe um complicador para pessoas com essa dificuldade de se valorizar, pois pode começar a parecer que você não recebe nada dos outros porque eles não se preocupam e não se importam com você. Contudo, ao estar sempre priorizando o outro em detrimento de si mesmo, você pode transmitir uma imagem de autossuficiência que contribui para que as pessoas nem percebam que você precisa de algo delas.


Portanto, não duvide das suas capacidades, acredite no seu potencial para realizar tudo o que se propuser a fazer e tenha coragem para sair da sua zona de conforto sem cor, sem atrativos, rotineira e repetitiva, onde comumente nos sentimos seguros. Tentar coisas novas não implica realizar uma grande mudança de postura diante da vida, mas você pode começar com pequenos passinhos, um dia de cada vez. Como, por exemplo, ir ao supermercado e comprar um produto diferente da marca que você sempre compra, não responder “tudo bem” quando estiver sobrecarregado emocionalmente e precisando de alguém para conversar, ou tomar a iniciativa de convidar um amigo ou o namorado para fazer algo que você queira.


Everllin Diana

é psicóloga clínica e organizacional, CRP 01/19281. Atende adolescentes, adultos e idosos na Abordagem Centrada na Pessoa. Tem interesse no campo da autovalorização, autonomia e autoempoderamento. Graduada em Psicologia pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), especialista em Gestão Estratégica de Pessoas pelo Centro Universitário UNIEURO, tem experiência em atendimento clínico, realização de processos seletivos, treinamentos, palestras e cursos.

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